Publicação produzida para a disciplina "Estúdio Vertical" da Instituição de Ensino Escola da Cidade. Com Dora Camarero, Camilla Abdallah, María Clara Calixto e Tamara Crespim. 2020
Como ponto de partida da pesquisa, entendemos a nossa sociedade como uma sociedade cuja modernização foi pautada a favor de paradigmas ocidentais de civilização (padrões eurocêntricos, brancos e patriarcais), destrutiva e homogeneizadora das outras formações culturais. Por sua vez, as características estruturais dessa sociedade pós colonial são imprimidas não apenas em formas subjetivas nas relações sociais, mas também físicas no território da cidade - repetindo uma lógica de apagamento. Para explicar tal processo histórico, o grupo de pesquisa escolheu como recorte territorial a região da Avenida do Estado na altura do Parque Dom Pedro II. Durante o primeiro mandato de Prestes Maia como prefeito da capital (1930-1945) foi parcialmente instaurado o Plano de Avenidas de São Paulo. O plano envolveria um sistema complexo de avenidas radiais e avenidas de fundo de vale que, desta forma, transpunha os obstáculos físicos para a expansão do centro, como o Vale do Anhangabaú, a Várzea do Carmo, Rio Tamanduateí e o Parque Dom Pedro II - lógica ao qual prioriza o centro em constante desenvolvimento em detrimento à periferia. Tem-se na década de 1930 a inauguração total e asfaltamento da Av. do Estado. Com isso o parque, juntamente do Rio Tamanduateí, se encontram alheios do resto do conjunto urbano, e vão desaparecendo conforme mais vias e elevados eram erguidos. O parque, que antes tinha sua devida importância, hoje depois de atropelado em nome da ideologia do urbanismo progressista, se faz presente como um enorme espaço residual de difícil acesso e permanência, e como uma área de total descaracterização do que já foi como espaço urbano e público. 
Entendemos espaços para respirar - conceito gatilho para o trabalho - como uma ruptura com as estruturas sócioespaciais vigentes do pós colonialismo. Assim, a intervenção que propomos para a região do Parque Dom Pedro II pretendia romper com o espaço existente, revertendo a hierarquia onde o carro é o sujeito mais privilegiado, ao contrário do pedestre e do rio que são apagados do espaço urbano. Não pretendia-se solucionar de forma holística todos os problemas da região, mas sim criar um dispositivo que chamasse a atenção no sentido de uma intervenção efêmera e temporária, gerando um percurso conector de acesso aos grandes espaços residuais do entorno. A ideia era que o percurso ligasse a estação de metrô Parque Dom Pedro II ao terminal de ônibus, a Escola São Paulo e o parque de forma que houvesse tanto a conexão prática entre os espaços, quanto um dispositivo de alarme às diversas camadas existentes na área - relembrando um passado histórico que foi apagado com as transformações da cidade. Não é um projeto que pretende atender à um público específico e nem um programa específico, mas sim uma tentativa de democratização em seus fluxos e espaços de livre programação para aqueles que irão o ocupar. 
No que se diz a respeito do desenho da intervenção, a intenção é que ela fosse distópica, partindo de uma grande estrutura modular de andaimes implantada no eixo do Rio tamanduateí, para além da altura dos grandes viadutos, questionando o plano modernizador de avenidas. A intenção era fazer uma releitura dos viadutos e como eles modificam a paisagem, usando a racionalidade de sua produção ao extremo (andaimes) a partir de um projeto que ao se colocar acima do rio, tanto aumentava o apagamento já existente quanto criava uma relação com a sua memória.
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